Em tempos de intolerância e radicalismo, passou da hora de ficarmos felizes com a felicidade do outro e nos entristecermos com o sofrimento do outro.

Mas não se engane, isso não tem nada a ver com empatia e a já desgastada ideia de nos colocarmos no lugar do outro (Seria possível em termos práticos? Não seria!). Esse tipo de percepção que trago está relacionado com o conceito antropológico de alteridade, que trata da distinção e do contraste percebido entre o meu eu e o do outro, ou seja, a noção que tenho sobre a minha existência se dá a partir da noção que tenho da existência do outro.

Muitas vezes, coexistimos sem notar essa interdependência. Principalmente no mundo corporativo, onde a relação vertical e intimidadora estabelecida pelos níveis hierárquicos figura como fator relevante para a ausência de alteridade no ambiente de trabalho, sem falar da competição tóxica imposta pelas metas.

Partindo do pressuposto de que quando eu percebo o outro instantaneamente eu me percebo, muitos benefícios podem surgir. Notar o que aflige ou alegra meu colega de trabalho, seja qual for seu posto, também pode dar indícios sobre a minha própria conduta e permitir uma correção de percurso. Assim, estabelecendo relações a partir de novos olhares, antigos atritos podem ser desfeitos e uma admiração mútua pode surgir, quem sabe até uma postura mais colaborativa e menos competitiva, não é mesmo?

E você, já percebeu seu colega hoje?

Foto: Christina Morillo